Um Porto muito Sentido
Do Chico-fininho resta a vontade por fazer e reinventar música. Roqueiro, com sotaque do norte, ar descontraído e sempre animado. É o Rui Veloso que todos conhecemos e que atuou ontem, 19 de outubro, e atua hoje, dia 20 de Outubro, no Coliseu do Porto.
A casa estava cheia e, apesar da crise, espero que nenhum espectador tenha tido que "empenhar os seus anéis" para conseguir um bilhete para o concerto.
A solo, em muitos projectos em que dividiu palco com músicos nacionais, depois de muitas colaborações com lendas da música portuguesa e bandas que estavam a sair da garagem, Rui Veloso construiu uma das carreiras mais sólidas de Portugal.
Às 22h Rui Veloso e os seus companheiros de música iniciaram o concerto que estava esgotado já há algumas semanas e que levou a acrescentarem uma nova data para o dia seguinte.
O espetáculo contou com a colaboração de alguns músicos portugueses menos conhecidos e que o Rui, como é seu hábito, gosta de apadrinhar. Primeiro, Ricardo Silva, um rapaz do Porto que veio tocar harmónica e que muito abrilhantou a música “Chico-fininho”. Mais tarde, o guitarrista Hugo Correia dos Fadomorse, veio tocar uma versão da canção Mariazinha de José Mário Branco.
Já estamos habituados aos momentos inéditos dos Coliseus e este concerto cumpriu a promessa.
Foi esta a sala escolhida pelo cantor para reinventar canções e para tocar músicas que estavam guardadas com muito carinho no fundo do baú e que não têm lugar em concertos mais comuns.
Entre músicas bem conhecidas, como “Não me mintas”, “Lado Lunar”, “Nunca me esqueci de ti” e “Todo Tempo do Mundo”, Rui tocou músicas mais antigas. "Estas músicas têm mais de 30 anos, como o tempo passa…”, disse. Das bancadas saíram muitos aplausos no final de cada música e ouviu-se quase no final do concerto: “Poooorto”(pessoas que fizeram questão de relembrar que o Rui estava em casa) ao que o Rui Veloso respondeu com um igual entusiasmo “Poooorto”.
O momento alto do concerto foi com a música “Porto Sentido” que o Coliseu fez questão de cantar em coro muito bem afinado e muito emocionado, não fosse esta a canção da sua cidade.
A “Paixão” foi outra das canções mais aclamadas. Choveram isqueiros, pessoas levantaram-se e entoaram a letra, no final de contas “não se ama alguém que não houve a mesma canção”.
"Chico-fininho", canção tocada por todos os músicos e cantada por toda a audiência dava início ao fim. Depois deste momento de rock and roll, Rui saiu para tomar folgo para o encore, depois de 1h30 a entreter o coliseu, a criar sentimentos de nostalgia, a fazer lembrar amores e desamores antigos, momentos vividos na adolescência e pessoas que estão longe. “O tempo passou rápido” dizia o Rui Veloso, momentos antes de terminar o concerto.
Voltou para mais umas músicas do baú e terminou o concerto com “Não há estrelas no céu”, uma música dos eternos adolescentes.
Ficaram muitas canções por tocar, ainda se pediu por “O prometido é devido” e “Jura”, mas todos estes anos de carreira não podem ser resumidos em 2h de concerto.
Em 32 anos de carreira o Chico-fininho deu lugar ao pai do Rock Português. Rui Veloso cantou hinos, escreveu páginas na história da música nacional, fez banda sonora de filmes e de vidas, compôs canções e deu voz aos poemas de Carlos Tê (que fez questão de lembrar no concerto a importância que teve na sua carreira). Hoje, dia 20 volta actuar na mesma sala e no próximo mês vai ao Coliseu da capital, dias 17 e 18 de Novembro.